Guia rápido para descobrir um pouco da história, da classificação científica e do cenário do bambu nativo brasileiro e do bambu introduzido/exótico no Brasil.
Os primeiros usos do bambu no Brasil remetem a cultura milenar dos povos indígenas, onde era conhecida também como taboca e taquara, antes da colonização portuguesa. Já os primeiros estudos do bambu brasileiro ocorreu no século XIX, entre 1829 a 1835. O biólogo e médico alemão Nees Von Esenbeck publicou trabalhos importantes para a compreensão da taxonomia dos bambus. Nees escreveu um capítulo sobre gramíneas, que incluía os bambus, na publicação Flora Brasiliensis no Brasil. Posteriormente, publicou um outro estudo dedicado aos bambus brasileiros, que é reconhecido como a primeira produção dedicada exclusivamente as Bambusoideaes.
Classificado como um produto florestal não madeireiro, o bambu não é rotineiramente incluído nos inventários de recursos ambientais, o que dificulta a real entendimento e compreensão do potencial econômico do bambu no Brasil. As condições ambientais favoráveis, a princípio, ao plantio de bambu são: solos com pH entre 5,0 e 6,5, solos com boa drenagem, mas com boa retenção de umidade, pluviosidade entre 1.800 mm e 2.500 mm anuais e umidade relativa entre 75% - 85%. O pH no intervalo de 5,0 a 6,5 é um solo ácido, mas não extremamente. Muitas plantas preferem essa faixa de pH para absorver nutrientes de forma eficaz.
Sobre os custos e a rentabilidade de plantio de bambu, não é possível apresentar estimativas de ganhos, visto que estão diretamente ligados a construção e posicionamento de marca dos empreendedores e dos investidores, e das exigências do segmento comprador como certificação, tratamento, garantia, forma de pagamento, prazo de entrega, frete entre outros.
O bambu é indicado para recuperação de área degrada e/ou de baixo retorno econômico, e estratégias comerciais orientado ao mercado impactam no planejamento estratégico do cultivo e/ou coleta. Um hectare pode ser preenchido com 400 mudas ou com 800 mudas.
De acordo com a classificação científica, as Bambusoideaes são do domínio Eukaryota. Pertencem ao reino Plantae, ordem Poales e família Poaceae (gramíneas). Poales é uma ordem de plantas dentro do grupo das monocotiledôneas (classe Liliopsida), que compreende uma grande variedade de famílias, incluindo algumas das mais economicamente importantes. As gramíneas, que fazem parte da família Poaceae, são talvez as mais conhecidas dentre as Poales, por sua importância como cereais (como trigo, arroz, milho e cevada), forragens entre outros. Além disso, muitas espécies de Poales são fundamentais para ecossistemas naturais, fornecendo habitat e alimento para uma vasta gama de fauna. As características gerais das plantas da ordem Poales incluem folhas geralmente lineares e flores pequenas, frequentemente agrupadas em inflorescências. Muitas são adaptadas a habitats específicos, desde áreas úmidas e aquáticas até regiões secas e montanhosas.
A família Poaceae, também conhecida como gramíneas, são uma grande e quase onipresente família de plantas monocotiledôneas. Com mais de 12.000 espécies distribuídas em cerca de 700 gêneros, as Poaceas são uma das famílias de plantas mais importantes e ecologicamente significativas. Elas incluem culturas cruciais como trigo, milho, arroz, cevada, aveia, cana-de-açúcar, sorgo, e muitas outras, que são fundamentais para a alimentação humana e animal em todo o mundo.
As Poaceas desempenham um papel crucial na conservação do solo, no ciclo da água e como habitat para uma vasta gama de vida selvagem. A domesticação de várias espécies de Poaceas para agricultura é um dos pilares do desenvolvimento das civilizações humanas, permitindo a sedentarização e o crescimento populacional.
As Bambusoideaes são uma subfamília pertencente à família Poaceae, que é uma das maiores famílias dentro da ordem das Poales. Os bambus se destacam por serem um grupo de plantas muito versátil, com presença marcante em diversos ecossistemas ao redor do mundo, especialmente em regiões tropicais e subtropicais.
Características gerais das Bambusoideaes:
Crescimento: Os bambus podem ser divididos em dois grupos principais com base no seu sistema de raízes: leptomorfos (alastrante), paquimorfos (semi-entoucerantes) e metamorfos (entouceirante). Os bambus entouceirados tendem a crescer em densas touceiras, enquanto os alastrantes se espalham mais amplamente.
Estrutura: A estrutura dos bambus é notável por seus caules lenhosas (colmos) que podem alcançar diversas alturas, desde espécies anãs até gigantes que ultrapassam 30 metros. Os colmos são geralmente ocos, com nós e entrenós claramente definidos.
Folhas: As folhas dos bambus são tipicamente longas e estreitas, com uma veia central proeminente.
Flores: A floração dos bambus é um fenômeno peculiar, pois muitas espécies florescem em longos intervalos, que podem variar de algumas dezenas até mais de cem anos. Além disso, muitas vezes, toda a população de uma espécie floresce sincronicamente, independentemente da sua localização geográfica, o que pode levar à sua morte em massa após a floração.
As Bambusoideae são divididas em três tribos principais - Bambuseae, Arundinarieae e Olyreae - e refletem a diversidade dentro da subfamília:
Bambuseae: Esta tribo é composta principalmente de bambus tropicais que são frequentemente lenhosos e vivem em florestas tropicais, e são conhecidos por seus rápidos crescimentos e pela capacidade de formar florestas densas. Muitos membros desta tribo são importantes economicamente, fornecendo materiais para construção, móveis, e outros usos. Alguns dos gêneros mais importantes são:
Bambusa: Um dos gêneros mais conhecidos, inclui espécies como o bambu-verde (Bambusa vulgaris), amplamente cultivado nos trópicos por seu rápido crescimento e utilidade em construções, móveis e utensílios.
Guadua: Este gênero é notável na América do Sul, especialmente no Brasil e na Colômbia, por sua importância econômica e ambiental. Guadua angustifolia é uma espécie emblemática, conhecida por sua resistência e utilidade em construções sustentáveis.
Dendrocalamus: Espécies deste gênero são grandes e robustas, utilizadas na Ásia para construção, papel e móveis. Dendrocalamus giganteus é uma das maiores espécies de bambu do mundo.
Arundinarieae: Conhecidos como bambus temperados, esses bambus são encontrados em regiões mais frias, incluindo áreas montanhosas. Eles tendem a ser menos lenhosos em comparação com os membros da tribo Bambuseae. Os bambus temperados são adaptados a climas mais frios e muitas vezes são encontrados em altitudes mais elevadas. Eles tendem a ser menores e menos invasivos do que os bambus tropicais. Alguns gêneros notáveis incluem:
Phyllostachys: Este gênero inclui algumas das espécies mais cultivadas fora dos trópicos, como Phyllostachys edulis (bambu moso), que é amplamente utilizado na China para alimentação (broto de bambu) e construção.
Fargesia: Espécies deste gênero são importantes para a dieta do panda gigante e são caracterizadas por seu crescimento agrupado, ao contrário do crescimento invasivo de muitos outros bambus. Elas são amplamente utilizadas em jardins em climas temperados.
Olyreae: Esta tribo é única porque seus membros são geralmente herbáceos e não lenhosos, diferenciando-se significativamente dos outros bambus em termos de estrutura e habitat. Eles são encontrados principalmente em regiões tropicais sob a copa das florestas. Os bambus da tribo Olyreae diferenciam-se dos bambus lenhosos (tribos Bambuseae e Arundinarieae) por várias características, incluindo seu porte herbáceo, caules menores (chamados colmos) e hábitos de crescimento que tendem a ser mais adaptados à vida sob a copa das florestas, ao invés de formarem florestas de bambu densas ou serem usados significativamente em construções ou artesanato. Os bambus Olyreae têm importância ecológica, especialmente em ecossistemas de floresta tropical, onde contribuem para a biodiversidade e servem como alimento e habitat para várias espécies de fauna. No entanto, ao contrário de seus parentes lenhosos, eles têm uso limitado na indústria ou artesanato devido ao seu porte pequeno e características físicas. Os gêneros dentro da tribo Olyreae incluem, entre outros, Olyra, Pariana, e Eremitis.
A partir do conhecimento das tribos, avançamos para o gênero, por exemplo, Guadua, e após as espécies, como Guadua angustifolia.
A sub família bambusoidea é a única da Poaceae com grande diversidade em ambiente florestal. Ela está distribuída globalmente entre 46°N e 47° S, com latitude até 4,3 metros a nível do mar, em 116 gêneros e 1439 espécies, sendo que 62% estão na Ásia, 34% nas Américas e 4% na África e na Oceania. Sobre as temperaturas, clima temperado para as alastrantes e entre 20°C e 25°C para as entouceirantes.
Em 1994, o Inbar publicou um levantamento das espécies prioritárias, com 75 gêneros e 1.250 espécies, sendo 50 espécies utilizadas extensivamente. Os critérios para a classificação foram: utilização, cultivo, processos e produtos, germoplasma e recursos genéticos e agroecologia. Diante dos estudos foram classificadas 20 Bambusoideaes com maior prioridade. Apenas uma espécie latino-americana (Guadua angustifolia) foi reconhecida como espécie prioritária para ação internacional com base na sua importância econômica. Na publicação de 1998, houve a atualização das espécies prioritárias, e o Guadua angustifolia continuau como espécie prioritária.
Já em 2001, o Inbar avaliou os recursos de bambu na América Latina. Foram destaque 20 gêneros e 429 espécies de bambus lenhosos. A distribuição das espécies era: Brasil (137), Colômbia (70), Venezuela (60), Equador (42), Costa Rica (39), México (37) e Peru (37). Na região amazônica, em 1999, eram 18 milhões de hectares.
De acordo com o estudo, as espécies mais úteis na América Latina são dos gêneros Guadua e Bambusa. Para o uso comercial o destaque são Guadua angustifolia, Guadua amplexifolia, Bambusa vulgaris (introduzida/exótica), Bambusa tuldoides (introduzida/exótica) e Phyllostachys aurea (introduzida/exótica).
Segundo este estudo de 2001, no Brasil existem 17 gêneros, 137 espécies e 2 sub-espécie de bambu, com destaque para o estado de São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Bahia e Paraná. Há maior diversidade das Bambusoideas está na Mata Atlântica, que se estende do estado do Pará ao Rio Grande do Sul. Entretanto são os gêneros e espécies exóticas, que foram inicialmente introduzidas no período da colonização portuguesa, com o maior papel econômico, sendo mais estudadas e mais promovidas do que as espécies nativas. Ainda de acordo com o estudo, as seguintes gêneros e espécies possuem uso comercial potencial no Brasil: Actinocladum, Apoclada, Chusquea, Guadua e Merostachys.
O estudo Distribuição Potencial de Bambus Lenhosos na África e na América, de 2002, do Inbar, foram mapeadas 378 espécies e subespécies individuais de bambu e 32 gêneros de Bambuseaes. Os maiores números de riqueza potencial de espécies de bambu lenhosos (35 espécies por km²) foram registrados no estado de São Paulo, Brasil. Acredita-se que as regiões costeiras do lado Atlântico da América do Sul sejam um dos principais centros de diversidade de gramíneas bambusoideaes, juntamente com o cinturão de monções do Sudeste Asiático e do sul da China.
Em 2004, a primeira checklist para a Bambusoideae no Brasil foi publicada por Filgueiras e Santos Gonçalves. Nesta publicação foram listados 34 gêneros e 232 espécies.
Em 2005, em publicação FAO/Inbar ratificada que são 232 espécies nativas, com a distribuição na Mata Atlântica (62%), Floresta Amazônica (28%) e Cerrado (10%).
Já um outro estudo de 2015 relata que no Brasil há 256 espécies nativas, em 34 gêneros, 2 tribos Bambuseae (17 gêneros) e Olyreae (17 gêneros). Na região Norte se encontra o maior número da tribo Olyreae (herbáceos) com 61 espécies. Já os bambuseae (lenhosos) são encontrados na Região Sudeste, sendo Merostachys (43 espécies), Chusquea (45 espécies) e Guadua (18 espécies) totalizando 96 espécies nativas. São gêneros endêmicos no Brasil: Diandrolyra, Eremitis, Parianella, Reitzia e Sucrea para a tribo Olyreae, e Alvimia, Apoclada, Athroostachys, Cambajuva, Filgueirasia e Glaziophyton para a tribo Bambuseae.
Em 2017, uma nova públicação internacional classifica as espécies nativas, introduzidas e invasivas de diversos países, e apresenta o Brasil com quase 400 espécies nativas.
Muito importante frisar que na leitura da classificação científica sobre as bambusoideaes é necessário compreender a tribo pertencente, para depois seguir para o gênero, e posteriormente e por último a espécie.
Mesmo com centenas de estudos e pesquisas, ainda pouco de sabe sobre o bambu do Brasil e o bambu no Brasil. Apesar do considerável orçamento federal destinado a realização de pesquisas, o Brasil há 20 anos continua com balança comercial negativa, aumentando a importação de artigos de bambu anos após ano. A informalidade predomina a cadeia do bambu no Brasil, o que impacta negativamente para o desenvolvimento da economia do bambu. A economia do bambu movimenta cerca de US$ 68 bilhões anualmente no mercado mundial, com aplicações em diversas indústrias, incluindo construção, tecidos, móveis, papel e fontes de energia.
Certamente novos gêneros e espécies serão descobertos quando houver maior interesse por parte das empresas e investidores nacionais e internacionais, propiciando uma pesquisa aplicada, voltada ao mercado, bastante diferente do ambiente artificial das academias. A falta de capacitação e qualificação, assim como a profissionalização do setor, comprometem o desenvolvimento da cadeia produtiva. Por isso, o Centro Brasileiro Inovação e Sustentabilidade atua com consistência e robustez técnica realizando assessorias e consultoria para gestão de riscos da cultura do bambu, discutindo o arcabouço legal a nível federal, estadual e municipal, promovendo a produção de normas técnicas, de certificações, de selos de procedência, realizando eventos entre outras atividades. O Centro Brasileiro Inovação e Sustentabilidade é reconhecido nacional e internacionalmente como referência do bambu no Brasil.
Como o bambu é da ordem Poales, é necessário investimento por parte de grupos econômicos para validação de modelos de negócios e protocolos de cultivo e coleta do bambu, e o Centro Brasileiro Inovação e Sustentabilidade é o parceiro certo.
O DNA do bambu seguramente surpreenderá, visto que os fundamentos científicos são apenas um começo, visto a extraordinária capacidade de adaptação a ecossistemas específicos, desde áreas úmidas e aquáticas até regiões secas e montanhosas herdado das Poales.